Metadiscurso,O corpo é bom para pensar,Paisagens disruptivas, Cerrado Glitch
Cerrado Glitch
O corpo é bom para pensar
Paisagens disruptivas
Metadiscurso
A obra Metadiscurso, através da técnica de assemblage, simboliza a relação entre o consumo excessivo, a degradação ambiental e os impactos do modelo capitalista. Utilizando materiais descartados, como madeira e plástico, busco ressignificar seu valor e destacar o problema do descarte irresponsável. Ao incorporar esses elementos em uma obra de arte, evidencio a vulnerabilidade dos ecossistemas e paisagens naturais, assim como a deterioração gradual devido ao desenvolvimento de fungos da imagem no papel. Por meio do porta-retrato que acolhe a fotografia danificada, remeto ao acobertamento daqueles que deveriam ser responsabilizados por danos irreversíveis à natureza. A obra pretende provocar reflexões sobre a importância da sustentabilidade e do reaproveitamento dos recursos naturais. | “Estamos em 2020 e eu me encontro na Chapada dos Veadeiros, uma região localizada no Brasil central e conhecida como berço das águas. Este momento é uma performance auto-representativa, um ato de desejo de ser um com a natureza, mas também de sentir que meu corpo é a paisagem que se degrada com os entulhos, lixos e carcaças rejeitadas no caminho. Em meio a esses resíduos, eu os colho e os utilizo em minha jornada. No entanto, apesar de querer limpar meu corpo na água, percebo que sou um errante, um pensador que sente aquele espaço e o experimenta como um todo. Meu corpo é o lugar onde estou, e o que percebo é o que o filósofo do fenômeno chama de perceptor e perceptível. Não quero mais separar meu corpo do espaço que me cerca, pois meu corpo não é apenas mais um objeto entre outros objetos. Eu sinto todos esses objetos e me torno uma textura comum a eles. Meu exílio no lixo é uma tentativa de proteger o que ainda resta, de preservar a natureza em meio ao que é descartado.” | A paisagem, como objeto de representação artística, possui uma carga simbólica e cultural significativa. Ela representa não apenas um espaço geográfico, mas também carrega consigo valores, memórias e identidades. Ao evocar uma forma de pensamento, sou inquirido para uma reflexão sobre a relação complexa entre a sociedade e as paisagens que habitamos. Ao meu ver a destruição ou descaracterização das paisagens pode ser entendida como resultado dos modelos de desenvolvimento adotados pela sociedade contemporânea, bem como dos processos que orientam o crescimento urbano. A busca por crescimento econômico e a exploração excessiva dos recursos naturais muitas vezes resultam na degradação das paisagens, seja através do desmatamento, da poluição ou da perda de biodiversidade. Ao trazer à tona essa reflexão, a obra em questão propõe evidenciar a materialidade das paisagens, destacando a importância de reconhecermos a sua fragilidade e o impacto das ações humanas sobre elas. Além disso, há um sentimento de nostalgia que sugere uma preocupação com a perda de conexão com a natureza e com os espaços naturais que são substituídos por estruturas urbanas e artificiais. Este trabalho que iniciei em meados de 2020 teve como ponto de partida uma emergência mundial de saúde, ocasionada pelo Coronavírus (COVID-19), que me levou a ficar em isolamento social. Com isso, o espaço natural e aberto se tornou o único lugar onde meu corpo poderia estar sem correr o risco de contaminação. Durante minhas caminhadas no Cerrado, percebi a presença humana através do lixo espalhado em certos locais e comecei a fotografar esses materiais descartados de diferentes ângulos, criando imagens visualmente atraentes que quase faziam esquecer a insignificância desses objetos. No entanto, a experiência física do meu próprio corpo em meio a essa situaçãodissonante me afetou de várias maneiras, e passei a interpretar essas fotografias como gritos obscurecidos que revelavam a vulnerabilidade do próprio ser. Eu sentia que havia ali uma oportunidade de ressignificar esses refugos, transformando o que antes era lixo em algo que pudesse curar. Foi assim que decidi envolver meu próprio corpo no trabalho, despido e tomado pelos resíduos. Como defende o filósofo Merleau-Ponty em seu livro “Visível e Invisível”, o corpo não deve ser visto apenas como matéria objetiva, mas como um sensível capaz de sentir e refletir sobre si mesmo e sobre o mundo. Produzi então uma série de autorretratos em ambiente natural, com a presença das águas, tendo em mente as histórias de morte e ressurreição dos rios presentes em nossos mitos e memórias, como pesquisa realizada por Simon Schama em “Paisagem e Memória”. Essas imagens, que mesclam dois tempos e espaços diferentes, foram posteriormente manipuladas na etapa de pós-produção, resultando nas imagens finais. Embora consternado com a paisagem arrebatada pelo lixo, que me inspirou a trabalhar com preocupações ecológicas, sinto-me realizado pelo evento estético que me motivou a fotografá-lo. Em resumo, o trabalho não se limitou a fotografias isoladas, mas envolveu meu próprio corpo e a natureza, transformando o que era considerado lixo em algo que pode ter um novo significado e valor.| A estética Glitch, com suas imperfeições calculadas, é o canal que escolhi para expressar essa complexa relação. Ela é a linguagem que conecta o presencial e o digital, revelando como a tecnologia pode alterar e distorcer nossa percepção do ambiente natural. Cada pixel deslocado, cada fragmento de paisagem corrompido, é uma metáfora visual dessa convivência ambígua. E aqui, na temática da paisagem do Cerrado, encontro um terreno fértil para essa exploração artística. O Cerrado não é apenas o pano de fundo das minhas composições, mas uma entidade viva e pulsante. Cada recorte de uma folha, cada fragmento de uma rocha, é um testemunho das eras, um registro do tempo que passou. E ao mesmo tempo, o Cerrado é o palco de uma batalha entre a natureza e a tecnologia. A paisagem imponente resiste às incursões da tecnocracia, à medida que estruturas urbanas se insinuam em seus contornos. A minha arte é um eco desse conflito, uma meditação sobre como as duas forças se misturam e se refletem mutuamente. Nesse encontro do natural com o digital, espero que minha obra desperte uma conexão visceral entre o espectador e o Cerrado. Quero que essa fusão de elementos contrastantes provoque uma introspecção sobre nossa relação com a tecnologia, a natureza e, em última instância, com nós mesmos. Neste trabalho, busco ser um agente dessa dualidade. Minhas imagens fragmentadas, distorcidas e reformuladas não são apenas visuais, mas narrativas que ecoam nossa busca incessante por compreender o que somos e nosso lugar nesse mundo em constante evolução.
O artista visual é licenciado em Artes Visuais pela FAV-UFG e tem seu trabalho exposto em diversas exposições coletivas, tanto nacionais quanto internacionais. Algumas das mais recentes incluem o Salão de Arte Contemporânea de Formosa, Goiás, em 2023, 3o Festival Mexicali Collage, realizado em Oaxaca, México, em 2023, o Prêmio Festival Goyazes de Fotografia, em Goiânia, GO, em 2022, a II Mostra Internacional de Arte Postal – Cartografias da Desilusão Colonial, em Novo Hamburgo-RS, também em 2022, o Pequeno Encontro da Fotografia, realizado de forma virtual em Olinda, PE, a II Convocatória Internacional De Collage na Gasb Galería de Arte Sam Bellamy, com exposição virtual permanente, em 2022, além de Todo Y Nada, exibida na Vayo Collage Gallery em NY, EUA, no mesmo ano. Suas obras têm sido incluídas em publicações independentes de arte, tais como Superpresent Mag, Contemporary Collage Magazine, Collazine, The Hidden Mag, entre outras. Essas revistas, que são referências no meio artístico, têm reconhecido o seu trabalho lhe proporcionando uma maior visibilidade. Estar presente nessas publicações é uma forma de fortalecer a sua presença no cenário artístico e de se conectar com outros artistas e públicos, possibilitando novas trocas e reflexões sobre a sua prática artística