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Não jogue este em vias públicas", "Tão longe, tão perto", O amanhã que não deseja chegar

Não jogue este em vias públicas Não jogue este em vias públicas

Tão perto, tão longe Tão perto, tão longe

O amanhã que não deseja chegar O amanhã que não deseja chegar

A obra problematiza as ações humanas sobre o cerrado que, não apenas descartam seus rejeitos no bioma, mas o tornam o próprio rejeito, para o qual se nega o olhar de cuidado e preservação. Para a colagem, utiliza-se uma xilogravura com a imagem de uma árvore do cerrado. A imagem é rasgada ao meio, separada em partes opostas e uma delas é parcialmente recortada em tiras para, através da técnica de rollage, entrelaçarem-se ao papel, riscado e cortado em perspectiva. A imagem obtida nesse processo remete aos prédios de uma cidade, numa alusão à dependência estrutural que temos do bioma. Ao mesmo tempo, em palavras pequenas recortadas de um panfleto que é normalmente distribuído nas ruas, lê-se a frase “não jogue este em vias públicas”. Questiona-se, assim, o tratamento que nossa sociedade tem dado ao cerrado, como um bem descartável, capaz de sempre “reciclar-se”. Mas até quando? | A obra deseja provocar reflexão acerca do nosso olhar para o cerrado e sua destruição gradual. A xilogravura de uma árvore típica do cerrado foi impressa em guardanapo de papel, denotando a fragilidade desse bioma nas mãos do nosso descaso. Um descaso que é proporcional ao distanciamento que insistimos manter em relação a temas que demandam drásticas mudanças em nosso comportamento social. Porém, não estão nada distantes de nós as consequências do desmatamento, da poluição, do genocídio de povos originários, representados pelas cores quentes ao fundo e as linhas do bordado. As palavras coladas constroem a poética de um círculo vicioso, que denuncia o paradoxo de um distanciamento fictício. Afinal, a destruição do cerrado está altamente intrincada e relacionada ao nosso cotidiano. | A obra discute o impacto da ação humana sobre o cerrado numa perspectiva de disputa entre dois polos: de um lado o futuro nefasto imposto pela devastação, do outro, a resistência do bioma. Por meio de técnicas mistas, “O amanhã que não deseja chegar” busca representar a luta do cerrado contra um tempo impiedosamente imposto pela degradação humana, onde a biodiversidade tenta se refazer, mas segue altamente ameaçada. O amanhã que se desenha nesse horizonte já se sabe perverso, e não deseja chegar, como uma profecia de destruição que não deseja cumprir-se, como a própria morte que se recusa a esse papel diante da vida exuberante. Afinal, aqui não é a morte que mata, mas é a mão humana, suja de terra seca, carvão e sangue.

Michelle Duarte é artista visual em Goiânia, GO, onde reside e trabalha. Em sua obra utiliza a liberdade de técnicas e suportes diversos para discutir temáticas sensíveis, questionando poeticamente os limites entre dualidades. Morte e vida, presente e futuro, usual e absurdo, e outras fronteiras, são marcados, em seu fazer artístico, por uma subjetividade que, frequentemente, apoia-se no universo surreal e imaginário para ganhar representação. Formas orgânicas e abstratas convivem num exercício contínuo de aproximação entre aparentes opostos na perspectiva de valores e hábitos comuns a qualquer vivência humana.



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